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O poeta nos deixou. Airton Monte. Um cara. Ou melhor, o cara. Dele, a simpatia do sorriso com que escondia o 'médico de loucos' com que se diplomara. Mas ele era antes de tudo, um escritor. Um doutor da crônica. Um mestre do esmero no diagnosticar as causas de nossa realidade, parecendo viver entre o descanso da rede e as paredes do ambulatório. Pois nesse meio tempo, escrevia crônicas. Escrevia. Porque fosse prosa, fosse verso, Airton era um monte de construções literárias, num texto que levava o leitor a imaginar-se ali ao seu lado, numa conversa que só amigos mais afeiçoados, como Rogaciano Leite Filho, costumavam ter com ele.
Gostava de Airton como gosto de mim. Essa é a melhor definição de alguém por alguém. Pela (humana) alma franciscana que é, pela liberdade de associar-se a temas tantos em seus relatos diários naquele canto de página do segundo caderno de O Povo. Airton era vida. E arte.
Pois Airton mudou de endereço. Deixou o físico marcado pelas consequências da boemia, mas saiu de cena como todo bom artista que sabe distinguir o luminoso do sombrio, o perfeito do que ainda não o é, mas nunca se preocupava com a própria saúde. Como médico, diasgnosticava almas e aconselhava a se cuidar de mentes e corações para que a liberdade de existir fosse caminho de luz na fluidez da Vida. Ele, porém, parecia viver num planeta distanciado desse nosso mundinho de questiúnculas e partidarismos, elevando sua alma, todo santo dia, nas linhas que escrevia da máquina de datilografia, que ainda guardava paixão.
Airton não se foi, como pensam os materialistas; mudou-se, como dizemos nós, espiritualistas de boa vontade e que, por acreditarmos que nada morre, tudo se transforma, perdemos a roupagem física e iniciamos o caminho de volta à pátria do espírito.
Airton, desde ontem, mora na sabedoria do Ser.
Um comentário:
Perdi minha leitura diária.O andar de cima,está mais inteligente.
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