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domingo, 23 de dezembro de 2018

JORNALISMO. Apologia ao nazismo gera polêmica em O Povo

A citação (infeliz) do colunista Lúcio Brasileiro, na edição de 14 de dezembro passado em O Povo, fazendo apologia ao nazismo, recarregou as baterias de indignação de leitores - inclusive de judeus residentes no Ceará, vide Saulo Tavares - causando danos que já se esperavam. Segundo a ombudsman do jornal, muitos leitores questionaram "como o colunista e o jornal publicam uma defesa a um dos regimes mais sangrentos da história da humanidade". 

A resposta dada pela ombudsman, neste domingo, merece a leitura de todos, para que se entenda o que prescreve o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros e a posição da profissional que responde pela ouvidoria do jornal cobrando o cumprimento da Carta de Princípios do próprio jornal 



Apologia ao nazismo
Com o título "Apanhado político", o colunista Lúcio Brasileiro assim escreveu a nota de sua coluna da sexta-feira 14 de dezembro de 2018: "Não será uma eleição nem várias eleições que poderão salvar o País (...). Talvez implantação do nacional-socialismo, que livrou a Alemanha do comunismo, nos anos 20 e 30". Nacional-socialismo é outro nome para o nazismo. Movimento fortemente caracterizado pelo seu caráter nacionalista, o regime nazista foi também amplamente conhecido por ser totalitário, antidemocrático e racista. A história mundial nos ensina isso.
Após a publicação desta nota na coluna, não faltaram críticas. "O Lúcio Brasileiro foi além de todo e qualquer limite que possa ser tolerado, exaltando descaradamente o nazismo, o que, pela Constituição, é considerado crime. É assustador quando um jornalista, que tem uma coluna permanente neste jornal - com o único objetivo de bajular segmentos de uma elite que se nutre de frivolidades - proponha uma mudança de regime para que o nacional-socialismo para salvar o Brasil do comunismo. Quanta mediocridade!", escreveu Mário Mamede.
O leitor Leonardo Bezerra enviou: "O jornalista apresenta uma predisposição ao regime totalitário que justificou a morte e a perseguição de milhões de pessoas. Ele também apresenta uma postura terrorista ao propor o fim da Democracia com base em informações equivocadas e uma visão ideológica preocupante a quem defende os Direitos Humanos". Filipe Veras criticou: "Apologia ao nazismo, além de absurdo e inadmissível, é crime! E neste caso, o jornal está sendo cúmplice". Lia Silveira comentou: "Sério? Apologia ao nazismo explícita? O jornal O Povo deve uma explicação aos seus leitores, no mínimo".
Princípios

Várias outras queixas se somaram às dos leitores acima, questionando como o colunista e o jornal publicam uma defesa a um dos regimes mais sangrentos da história da humanidade. É sabido que os colunistas, nos espaços que ocupam no O POVO, têm liberdade para defender suas ideologias, seus pensamentos e suas visões de mundo. É para isso, pois, que os espaços opinativos existem nos veículos - colunas, artigos e pontos de vista, por exemplo. No entanto, tais posicionamentos devem respeitar todos os princípios e direitos vigentes no País.

Ademais, é necessário ressaltar que a apologia ao nazismo não é tão somente um ato com o qual se concorde ou do qual se discorde. O crime de divulgação do nazismo é um dos crimes previstos pela lei brasileira. Além disso, o regime totalitário, pelo número de vítimas que causou e pelas marcas que deixou em todo um povo, é lembrado sempre de forma muito dolorosa por várias gerações. Respeitar os princípios que regem todos os documentos que buscam fundamentar os direitos do cidadão é dever fundamental da imprensa responsável e comprometida com informações de qualidade.
A Carta de Princípios do O POVO é um desses documentos que precisam ser constantemente lembrados - inclusive aos seus jornalistas. Lista, como o nome indica, princípios que devem nortear as condições que orientam a linha editorial do jornal. Entre os princípios, está democracia: "O próprio nome do O POVOdefine a opção democrática que sempre foi e sempre deve ser de defesa das causas populares, inspiração de todas as formas democráticas de organização e fonte de permanente legitimidade do Poder institucionalizado". A mim, não parece que, ao defender o movimento nazista, estamos colocando em prática um dos princípios tão relevantes que apoiam a Carta.

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros menciona que é dever do jornalista: "XIV - combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza" (Art. 6º). Além desses, fazer uma leitura rápida na septuagenária Declaração Universal dos Direitos Humanos também é recomendável.
Acerca do caso, a Chefia da Redação responde: "O POVO não defende o regime nazista. Ao contrário - ao longo de sua história, o jornal sempre se posicionou contra e denunciou as atrocidades cometidas".

Defender um posicionamento, inclusive político, implica ter argumentos suficientes para sustentar uma opinião. Isso deve significar uma defesa com responsabilidade e respeito ao outro. À medida que se usa um espaço de jornal para violentar ou defender iniciativas desumanas, ultrajam-se memórias de inúmeras vítimas e ofendem-se outras tantas. O POVO, meio de discussão qualificada que é, não deve ser portador de intolerâncias. Ou não deveria ser.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nonato veja como é notária a falta de solidariedade de alguns radialistas.
Recentemente ocorreu um episódio de animosidade entre a APCDEC e os times do Ceará e do Fortaleza.
A rádio Verdes Mares estava fazendo uma entrevista com um dirigente do Fortaleza sobre o episódio e o diretor citou o nome do Presidente da Entidade senhor Alano Maia fazendo algumas afirmações sobre sua conduta diante do fato.
O Presidente ligou para a emissora para dar sua versão e o pessoal da rádio negou a palavra. Fica nítido a falta de respeito da emissora com a crônica esportiva. Como negar a palavra ao Presidente da APCDEC diante de um fato tão grave?
Sugiro que você procure ALANO MAIA para esclarecer o fato.