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domingo, 25 de fevereiro de 2018

LEITURA. Com permissão do Demitri Túlio: o texto



Quando cheguei ao jornal, em 1992, primeira vez que passei pelo O POVO, aqui estava, em máquina de escrever, Landry Pedrosa. Um repórter magro, rosto de turco e um bigode singular abaixo do nariz curvado. Era elétrico. Sempre o vi de pano passado, papel de anotar versões na mão, uma BIC e a pressa perseverante por furos. Aquele senhor de Catarina, de uma família onde todos se parecem uns com os outros na moldura oval, se alimentava, principalmente, de notícias. Era o pão com café dele. Só fui ser seu amigo quando, anos mais tarde, voltei ao jornal e virei repórter de rua. Depois, seu chefe de reportagem. Landry foi o último dos repórteres, no O POVO, de uma geração rodriguena na forma de colher e fazer jornalismo policial. Em quase tudo, Landry se parecia com um personagem de Nelson.


Nasceu reporteiro nas rondas pela delegacia de Costume e Ordem Social e camburões. Eram deles os relatos das tragédias cotidianas e o testemunho de como a violência ia se moldando à Cidade que inchava desigual.
Foi ele o primeiro repórter a chegar na então mata da Chesf (Zé Walter), no avião caído que matou o general Castello Branco. Primeiro ditador da série 1964/ 1985. Pedrosa e o fotógrafo Manoel Cunha, que teve um filme tomado pelos milicos, estiveram na história e ela se desenrolando. Era 1967, a ditadura cívico-militar mordia os calcanhares da imprensa. Mas Cunha guardou o primeiro pedaço de filme. Uma foto história do soldado Uchôa carregando o corpo do irmão de Castello.
Seria o Esso daquele ano, mas não inscreveu.
" Landry foi o último dos repórteres de uma geração rodriguena na forma de fazer jornalismo policial"
Landry, como todo repórter faminto por informação, foi engordando memória. São, meio assim, os anos para quem decide viver numa Redação. Metade e mais um pouco da vida da gente vai se entranhando nos textos, se impregnando nas máquinas e câmaras, nos computadores... Quando damos conta, o repórter passa a ser confundido com o “ser vivo” jornal. Há um universo paralelo se movimentando no corpo de quem gosta de reportar. Landry, aos 78 anos, se vangloriava de notícias policiais inomináveis de sua caneta. E de ter tido o prazer de “parar as máquinas” para o papel ser manchado com a história catada por ele. A fuga do bandido galã Sílvio Pereira, um larápio de carro, deixou as solteiras e casadas de Fortaleza em “polvorosa”. Fugiu do antigo 5º Batalhão da PM, na praça José Bonifácio, e esgotou a edição com clichê vespertino. Foram muitos crimes passionais, assassinatos inesperados de crianças, acidentes como o da Vasp, desastres de ônibus em precipícios... O Cepinho, os rabos-de-burro, o Fernando da Gata, o Mainha, os primeiros assaltos a banco, as prisões de guerrilheiros, os estupros, a polícia como ela era, também o silêncio... Parte da história imediata de Fortaleza passou pela máquina cata-milho de Landry. Repórter de fazer quatro, seis matérias e encher a extinta página policial. Pois bem, escrevi este texto por pura saudade do Pedrosa e para reverenciá-lo nos 90 anos do POVO. Vou visitá-lo dia desses. 

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