MICHAEL JACKSON x BARACK OBAMA
Antonio Mourão Cavalcante (*)
Será que podemos comparar a trajetória de vida de Michael Jackson e Barack Obama? De início parece algo inusitado. Nada a ver, diriam os mais apressados. Porém, os dois pertencem à mesma geração, diferença de dois anos de idade. Ambos afro-americanos, como eles chamam por aqui. E, na infância, o grande desafio de resolverem a questão da identidade. Como ser negro num país onde ser branco é ser bacana
Michael Jackson, vindo de uma família desestruturada, teve muitas dificuldades na infância. Por talento ou fuga, a música acabou sendo o mais freqüente em sua vida. Barack Obama, com pai negro e mãe branca, foi praticamente criado pelos avós maternos, no Havaí.
Para ambos o grande desafio acabou se mostrando real: o que fazer com a pele negra? Como afastar-se dessa identidade tão cruel?
Michael Jackson, na medida em que crescia na música, virando um pop-star, passou a negar sua identidade. Violenta contradição entre o que fazia e o que buscava. Realizou tratamentos para embranquecer a pele e alisar os cabelos, cirurgias plásticas para mudar o rosto. Uma crise de identidade profunda. Quanto mais era – artista e famoso – menos se identificava como negro.
Barack Obama, em um de seus livros, conta que ficou impressionado, ainda criança, quando viu na revista Life reportagens sobre tratamentos para tornar a pele branca. Por que isso? Para que? Ele se perguntava... Na sua adolescência, a crise de identidade explodiu. Afinal, quem eu sou? O que posso ser? Foi nesse momento que ele descobriu a possibilidade não de deixar de ser negro, mas construir uma identidade – com plena dignidade – com qualquer que fosse/seja a cor de sua pele ou origem. Que a personalidade é determinada pelos valores que motivam a vida. É quando ele parte para o mundo social e, posteriormente, para a militância política.
Duas vidas, dois trajetos. Dois ícones desse país gigante. Duas buscas desesperadas de construir uma vida plena...
O jornal USA Today traz hoje a manchete talvez mais contundente: Morre o Rei do Pop, uma vida de triunfo e tormenta.
(*) Médico e antropólogo. Professor Universitário