O Diário de SP usa na capa desta sexta feira a expressão 'judia' para referir-se ao tratamento dado pelos planos de saúde aos pacientes. A palavra é considerada politicamente incorreta e ja mereceu do conhecido professor Sérgio Nogueira, um alentado comentário.
Judiar significa “escarnecer, fazer sofrer, atormentar, maltratar”. O verbo judiar é formado de “judeu” mais o sufixo “iar”. É, portanto, um verbo de carga depreciativa, pois seria “tratar como os judeus foram tratados”, ou seja, “maltratados como os judeus”. Embora muitos não associem judiar ao sofrimento dos judeus, o uso do verbo deve ser evitado. É uma palavra que carrega em si uma carga preconceituosa. Seria o que muitos chamam de palavra “politicamente incorreta”.
Há quem inclua nesse mesmo caso o verbo denegrir, que significa “tornar negro, escurecer” e que alguns associam à raça negra. Vejo aqui certo exagero. Existem exemplos como “denegriram-lhe os dentes” e “seus cabelos denegriram-se com cosméticos” em que não há nenhuma alusão depreciativa ou racista. Questionável seria o uso em exemplos como “denegrir a imagem ou a reputação” e “sua vida denegriu-lhe a alma”.
Exagero mesmo há no caso de “a situação ficou preta”. Ora, é sempre bom lembrar que “preto” nada mais é do que a ausência de cor. “Situação preta” é aquela para a qual não vemos solução.
É semelhante ao caso da expressão “ficou ruço”. Ruço pode ser “pardo”, “grisalho”, “desbotado”... Pode ser também aquela névoa densa muito frequente na serra. No caso de “a coisa ficou ruça”, significa que “ficou difícil”, ou seja, “sem solução, sem visibilidade devido à névoa”, em outras palavras, “a coisa ficou preta” sem preconceito algum.
Certa vez, ouvi um colega dizer que o certo seria “a situação ficou russa”, com dois esses, pois seria uma alusão à “péssima situação dos russos”. Isso certamente é um delírio.