Fóssil na cueca, lembra o quê? O tráfego de dólares por auxiliares de políticos cearenses e que, até hoje, não foi bem explicado. Pois o comentarista de Ciência, da Folha de SP, Reinaldo José Lopes, assina hoje artigo onde lamenta o roubo de fósseis da chapada do Araripe e que são comercializados nos EUA a preços vultuosos.
TRECHOS
"O leitor talvez se pergunte por qual razão deveria se preocupar com bicho morto há milhões de anos só porque o dito cujo, por acaso, esticou as canelas em território nacional.
Bem, em primeiro lugar, porque o (pouco) dinheiro que chega às mãos de paleontólogos e biólogos evolutivos tupiniquins vem do bolso desse mesmo leitor, e esse pessoal fica obrigado a consultar seu objeto de estudo no exterior, quando poderia fazê-lo na sala ao lado na faculdade.
Mas os verdadeiros prejudicados são dois grupos bem mais desassistidos. A molecada que perde a chance de ver, num museu brasileiro com acervo decente, a história da evolução se desenrolando diante de seus olhos; e os pobres "peixeiros" do Araripe (assim chamados devido à abundância de peixes fossilizados por lá), vendendo sua riqueza a preço de banana para atravessadores criminosos.
Em vez de ser a meca dos apaixonados pela vida extinta e ganhar dinheiro honesto com isso, o Araripe continua o lar de sertanejos pobres. É outro microcosmo da natureza essencialmente autopredatória do jeitinho brasileiro de explorar a própria riqueza".