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Márcia Paulino, leitora do GENTE DE MÍDIA, me solicita republicar um artigo meu que escrevi no ANTENA PARANÓICA sobre a questão do alcoolismo. Na ocasião eu li no programa de rádio da AM DO POVO.
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A lenda do santo demonio
Nonato Albuquerque
Já disseram que aquilo de bêbado num tem dono, mas nem por isso os
papudinhos largam a garrafa. Nem com a gota da mulesta eles param de
beber. Largar do vicio, ih, é difícil! Quando isso acontece, dizem os
mais encalacrados, ex-pinguço deixa de BB e se matricula no AA. "Puro
retrocesso escolar", argumentam com uma ponta de sarcasmo.
Pouca gente, porém, conhece a origem do alcoolismo entre as pessoas e
o pacto firmado pelo diabo com o bicho-homem ainda nos tempos da
criação do mundo.
Conta-se que Deus queria saber como andava sua obra. E anunciou uma
festa no céu para todos os seres vivos. Todos os bichos podiam entrar,
menos o anjo Lúcifer que andara aprontando das suas e fora banido do
condomínio celestial. Quando soube dessa proibição, o diabo ficou com o
cão nos couros. Jurou que iria à festa de qualquer maneira e se vingaria
de Deus atraindo para as suas hostes, a melhor das suas criaturas.
Pegou o "cãolendário´, informou-se sobre o dia, hora e lugar e, deu uma
infernal gargalhada, ao saber que se tratava de uma festa à fantasia.
- Festa à fantasia! Uau!" Tá como o diabo gosta.
Sem que precisasse esquentar muito os miolos, teve uma idéia... como
díriamos? Diabólica! Pensou: qual é a maneira mais fácil e sensata de
se entrar no céu? É o individuo se tornar um santo. Dito e feito.
Lúcifer vestiu uma mortalha branca, botou uma auréola de arame na
cabeça, calçou uns ´cãochutes´ novos, encenou um ar de santidade e se
mandou.
Passou direitinho por São Pedro, que estava no maior ronco na portaria e nem notou a entrada do demônio.
É bom dizer que das profundezas, o cão - ou melhor, o santo -
conduzia um frasco com um pouco de "água ardente" e uma tocha acêsa na
ponta com uma brasa retirada dos infernos.
Lá, ele ofereceu isso a todos os convivas. Nenhum bicho aceitou. O
passarinho, previdente, se negou a beber daquela água. A caipora também
desculpou-se, embora tivesse adorado tragar a essência da chama acêsa.
Interessado em proclamar sua
vingança, o diabo deu de cara com o bicho-homem, que na festa se
vangloriava ser a mais inteligente das criaturas, e que aceitou beber
todo aquele vaporoso líquido. Bebeu e bebeu e bebeu até cair de quatro,
enquanto Lúcifer aproveitava-se para firmar com ele um pacto demoniaco.
Dali em diante, toda vez que alguém da sua linha de sucessão
provasse da água ardente trazida por ele dos quintos, bastava evocá-lo
com um pequeno e simples gesto que ele, prontamente, atenderia a
qualquer convocação.
Dizem que é por isso que, até hoje, em qualquer botequim de beira de
rua, tem sempre alguém derramando no pé do balcão a primeira dose
dirigida ao santo. Que na verdade apenas se passara por ele.