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sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Irlandês lamenta má sorte da praia de Iracema


Passava hoje pela avenida Abolição e uma cena chamou minha atenção: dois estrangeiros entraram num resort com duas meninas. O ar de felicidade nos rostos deles, era como se tivessem acabado de encontrar o tesouro na ilha cujo mapa é a orla marítima de Fortaleza. Era hora do almoço.

Lembrei-me de um artigo do jornalista Tom Hennigan, publicado este mes no Irish Times, de Dublin, Irlanda e que descobri via blog do Lira Neto.

Versa sobre a ruína em que se encontra a Praia de Iracema em Fortaleza. De reduto boêmio no passado - e que reunia famílias da classe média - a um desavergonhado comércio sexual alimentado por turistas europeus.

Resolvi adaptá-lo com a intenção única e exclusiva de mostrar aos cearenses como até os estrangeiros já lamentam a má sorte de um dos locais mais importantes de nossa cidade.
É bastante comum lamentar-se de um certo tipo excêntrico de lazer em Dublin, o Temple Bar, que o turismo de massa estragou transformando um bairro de boemia em local de escritórios de especulação.

Mas essa falta de sorte poderia ser creditada à praia de Iracema, que foi outrora o Temple Bar do Nordeste brasileiro, na cidade de Fortaleza.

No passado, era ali onde as famílias locais iam jantar fora, pratos à base de caranguejo e camarão, aproveitando a brisa constante dessa cidade, situada logo abaixo do Equador e onde a promessa do governo hoje é de reembolsar os gastos do visitante caso chovesse mais de 3 horas por dia.

Nesse lugar, onde a classe-média frequentava às tardes e as noites, os bares ao longo da Beira Mar, misturavam jornalistas e políticos, que se confundiam com estudantes e artistas locais, em conversas e paqueras noite afora.

Agora, a Beira Mar está abandonada e revela sinais de ruína. A vida noturna é feita mais com música eletrônica e são europeus que conversam, bebem e dançam com prostitutas locais. Não demora muito tempo para se descobrir que a maioria dessas mulheres é nova e que muitas são menores.

Meu anfitrião local mostrava-se surpreso, depois que uma excursão pela área revelou homens de meia idade que se sentam em locais onde os novos adolescentes giram em busca de negócio.

Esta transformação da praia de Iracema aconteceu em pouco mais de uma década. A prostituição parece legalizada atualmente no Brasil. Ela vem do advento nos anos 90, da inclusão de viagens aéreas internacionais que levaram homens europeus, atraídos por sol e sexo de acordo com seu orçamento.

Porque Fortaleza é um dos pontos do Brasil mais próximos da Europa, muitos desembarcaram nessa cidade. E mais e mais prostitutas reuniram-se ali para servi-los. Como a maioria das boates da cidade é agradável, encontraram-se na praia de Iracema. Para os moradores locais há uma amarga ironia nisso tudo.

A praia de Iracema foi nomeada a partir da heroína de um clássico literário brasileiro do século 19. Um anagrama para América, Iracema era uma índia que teve uma criança com um conquistador português - primeiro brasileiro.

Agora os residentes da Europa vêm pagar pelo sexo com as descendentes de Iracema. Os moradores locais fugiram da área, restaurantes saíram do negócio, a menos que mudassem o foco de seus negócios e aderissem ao comércio do sexo.

O turismo fez supor que Fortaleza seria uma rota para diminuir os efeitos da pobreza. Mas, na verdade, em vez das famílias européias interessadas nos castelos-de-areia e nos passeios nas dunas em cavalos pela orla marítima, a cidade encontrou-se inundada com vôos charter da Itália, de Portugal e dos Países Baixos. Nestes, 80 por cento dos passageiros são do sexo masculino.

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