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domingo, 5 de outubro de 2008

Leitura indispensável: 'No começo, tem o votar'


Artigo do dr. Mourão, publicado na edição de ontem de O Povo, merece uma leitura neste domingo tão importante na vida de todo cidadão.


Amanhã (hoje) é dia de votar. Vestirei uma roupa limpa, bem cheirosa e, com o título de eleitor em mão, vou digitar aquelas teclas mágicas. De repente, eu serei, junto com todos os outros cidadãos, os grandes príncipes dessa cidade.

Para as gerações mais novas, votar deve ser um gesto banal - até chato e por que obrigatório? - ter que sacrificar alguns momentos de praia e do sol para escolher os mesmos de sempre....

Venho de outro tempo. Dos anos de chumbo. Onde apenas escrever: quero votar, dava cadeia e era um imenso insulto aos poderosos de plantão. Foi preciso que saíssemos às ruas, gritando por diretas já, fora a ditadura e tantas outras batalhas inflamadas. Não exagero dizendo que alguns chegaram a dar a própria vida. Poder votar, não vem de muito longe. Foi construído com grande esforço e organização. Passeatas, manifestações, greves. A luta do povo.

Hoje esse direito parece trivial, até chato! Um desfilar enfadonho de candidatos que repetem frases ocas e promessas sem consistência.

Não me iludo. Nem quero que seja um campeonato de santos versus pecadores. Claro que a legislação eleitoral precisa mudar e uma reforma política, mais radical, deve acontecer. Votar é apenas um dos instrumentos da participação popular. Nós todos somos convocados a sufragar quem conhecemos, confiamos e sabemos ser capaz de gerir e fiscalizar nossa cidade. Mas isso só não basta.

A democracia tem uma continuidade pós-eleitoral, quando se deve acompanhar o que os eleitos estarão fazendo e como administrarão nossa cidade.

A construção da democracia exige a constante participação. Digitar o voto na máquina é um passo. Mas, isso só não basta.

Precisamos exercitar mais a pressão popular. Exigir que os eleitos, realmente, cumpram o que prometeram. Que haja transparência em todos os atos administrativos. Enfim, o eleito vai exercitar um poder que lhe foi outorgado. Deve saber que tem um patrão e esse patrão, somos todos nós...


Antonio Mourão Cavalcante - Médico e antropólogo. Professor Universitário
a_mourao@hotmail.com

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