De Paulo Elpídio de Menezes*
Alguma coisa se passa por onde essas graciosas criaturas “aprendem” a ser jornalistas… Mais do que estudar, desenvolvem essas diligentes criaturas a capacidade de conviver, na teoria e prática da ciência da conviviabilidade, a que desperta a esperteza e a perspicácia, armas temerárias dos trabalhadores da imprensa.
O uso de linguagem clara e a adequação dos conceitos tornam o trabalhador da notícia sobre os fatos e o construtor da opinião artesãos dos quais se exige um nível mínimo de leitura e de informação da realidade que ele pretende enquadrar com regra e compasso.
A lógica, o domínio do vernáculo e o descortino sobre a história são instrumentos delicados a serviço do jornalista.
A visão ideológica e o ativismo patriótico são complementos dispensáveis para a compreensão da realidade que o repórter ou o editorialista, os “âncoras”, na linguagem midiática, pretendem engarrafar para o leitor preguiçoso e desatento.
O domínio da palavra exige, em muitos casos, maior perícia do que carece o cirurgião para expor meticulosamente nas bacias os miúdos dos seus pacientes…
A realidade — a verdadeira ou a ficção construída — a expor aos ímpios, cidadãos descuidados porém combativos, exige e impõe limpeza intelectual, assepsia lógica e perspicácia para traduzir os fatos e as suas circunstâncias e fazer com que sejam acreditados.
De tão complexo e variado é o métier de jornalista, em seu sentido mais amplo, que nem justificaria houvesse um curso em uma universidade para “fazer” jornalistas.
Bastaria ao aprendiz de feiticeiro-jornalista uma carga de filosofia “aplicada”, aulas de computação, que as palavras saem da máquina com alguma ajuda distraída do digitador, leituras bem conduzidas de história e ciências sociais,a granel, sem as partes chatas, e uma excepcional capacidade de tornar a realidade ficção e a ficção — realidade…
Ora direis, com a sensata suspeita: este é o perfil, na literatura, do ficcionista, nos desafios estéticos do romance e da novela.
Ao que eu responderia, apoiado no sucesso do “new journalism” americano: mas não é do mesmo encarte que estamos falando?
Lembrando, por justiça, para não esquecer que o “new journalism” foi a porta para o novo romance, o “nouveau Roman” que Alain-Robbet Grillet, na França, e outros tantos talentos projetaram no cenário da literatura mundial contemporânea.
*Professor, ex-reitor da UFC e literato cearense