Com a cobertura da pandemia de Covid-19, temos aprendido muito - sobre o que fazer e o que não fazer. Nos cursos, seja de graduação, sejam nos muitos que fazemos depois, aprendemos técnicas variadas, estudamos jornalismo especializado, conhecemos estratégias de gerenciamento de crise, esquadrinhamos cobertura de tragédia e afins.
Muitos de nós, porém, talvez nunca imaginamos estar dentro da cobertura de um surto pandêmico, em que várias outras crises se entrelaçam. O trabalho da imprensa, como atividade essencial que é, faz com que a responsabilidade de cada um seja muito maior. Essa responsabilidade faz de cada um agente importante na contação de histórias que é o Jornalismo. Não nos dá, porém, imunidade.
Temos visto, principalmente na TV, repórteres em pauta na rua usando máscaras como uma proteção necessária contra a contaminação do coronavírus. Por aqui, no O POVO, todos já usam a máscara de tecido se for necessário sair em pauta, além dos demais cuidados, como o uso do álcool em gel e máscara protetora facial (face shield).
Nos últimos dias, os casos da doença se multiplicaram no Ceará. O número de atendimentos nos hospitais fez com que a rede pública quase esgotasse o número de leitos ocupados, e alguns hospitais da rede privada atingissem sua capacidade máxima.
E os jornalistas, repórteres, repórteres fotográficos e cinegrafistas principalmente, continuam lá - nos arredores das unidades de saúde, conversando com pacientes e familiares, nas portas das emergências em busca do melhor ângulo para as imagens, nas aglomerações das filas dos bancos.
Precisamos, sobretudo, contar as histórias, é verdade. Se não nós, quem fará isso? As práticas jornalísticas nos exigem o observar, o questionar, o perceber. É o Jornalismo que denuncia a irregularidade, a falta do direito básico, do não atendimento, da espera prolongada na fila. É o Jornalismo que cobra aos gestores, que exige as devidas responsabilidades, que faz a mediação. Sem estar por perto, muitas vezes, é mais difícil.
Acontece que, nesta época, em que a alta contaminação dispara, o jornalista na rua também está vulnerável. É preciso refletir acerca do que fazemos e sobre como fazemos - é realmente necessária toda essa exposição? Se, de fato, for e não houver outra maneira de contarmos as histórias, devemos nos proteger melhor.
No meio da rua, em meio às aglomerações e nos arredores de hospitais, com uma máscara, o jornalista é mais um dentro do grupo de risco.