Um texto do excelente Ruy Castro, na edição de hoje da Folha de SP, remete qualquer jornalista ou estudante de Comunicação a conhecer a figura da americana Lilian Ross, que atuou como repórter na revista New Yorker, demarcando os parâmetros da entrevista moderna. Ela não usava gravador. Longe de me comparar a esse fenômeno, mas cheguei a usar essa tática aos tempos de repórter em O Povo e no Diário do Nordeste.
"Lillian não usava gravador. Escutava o entrevistado com atenção e tomava discretas notas num bloco. Observava seus movimentos, gestos, tiques, jeito de andar, falar, se vestir, e os reproduzia em detalhes. Ao fazer isto, seu encontro com o entrevistado desfilava fisicamente aos olhos do leitor, como se ele também estivesse presente. E nada de a repórter se meter na narrativa nem "adivinhar" o que o personagem estaria pensando ou sentindo, muito menos passar julgamento sobre ele —o leitor é que deverá julgá-lo. Nas entrevistas de Lillian, o leitor é quase o coautor."
Se eu lhes disser que, em minha vida de repórter cheguei a usar essa medida muitas vezes na redação de O Povo, sob a orientação da editora Isabel Pinheiro, você há de pensar que eu tivesse a técnica da jornalista americana, mas ousei.
Até um entrevistado, um professor do Curso de Psicologia da UFC, ao notar que eu o entrevistava e apenas escrevinhava algumas anotações em um bloco, ao terminar a entrevista ele perguntou: você tem certeza de que isso vai sair correto? Eu me desafiei: vai. E mando-lhe uma cópia da matéria antes de publicá-la. Eu o fiz e ele num telefonema seguinte, me disse: você tem uma memória boa!
Mais de uma vez eu me vi assim, sem gravador e fazendo entrevista longa para o jornal, tática que levei para o Caderno Vida & Arte, aos tempos de editores como Isabel, Eliezer Rodrigues, Lira Neto e Miguel Macedo. Bons tempos de aprendizado com essas figuras fantásticas.
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