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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

ARTIGO. CADÊ A NOTA MIL? Texto de Carlos Delano Rebouças

Por Carlos Delano Rebouças*

Ontem muito se falou (e ainda será assunto por dias e dias) sobre o resultado do Enem, em especial, de sua redação. Chamou atenção o número de notas mil, o qual foi acentuadamente inferior ao do certame anterior.

Muitos especialistas, em meio a leigos, fazem suas análises, tentando encontrar respostas para que se possa justificar essa baixa nas notas. Ora! A expectativa sempre vai ser de se alcançar números mais expressivos em relação ao ano anterior, não é?

Lendo algumas publicações em canais específicos, que abordam o tema educação no Brasil, vi que são vários os raciocínios que levam ao pleno entendimento de sua causa maior e principal. Dentre eles, o declínio de conhecimentos mais amplos e específicos diante da crescente busca aos recursos de inteligência artificial.

E por que se chegou a essa conclusão? Por quais motivos a IA passa a ser vilã em um processo que envolve tantos outros fatores decisivos? 

Como profissional de educação, de língua portuguesa, por muito tempo atuo  na produção de textos, inclusive redações de concursos e vestibulares. Por essa razão, entendo que para se confirmar um bom redator, faz-se necessário, entre outros fatores, um razoável domínio da norma culta e das regras gramaticais, de técnicas específicas de produção de redação e, sobretudo, ser detentor de uma riqueza sociocultural capaz de permitir uma abordagem segura do tema proposto.

Sobre essa última necessidade, de que precisamos ser cultos e bem informados, é onde entra essa tal de inteligência artificial. É exatamente nesse momento em que se separa quem acha e que encontra. Você, caro leitor, sabe a diferença entre eles?

Só acha quem procura. Já quem encontra, via de regra, acontece muito acidentalmente. Mas quando nos referimos ao conhecimento e  à informação, essa busca precisa ser contínua e constante, com absoluto respeito à sua importância. E se achamos muito facilmente nas pesquisas rápidas que possamos fazer em algum recurso de inteligência artificial, talvez seja uma solução apenas , daquelas para apagar fogueira, não um grande incêndio e seu rescaldo.

Ruim é quando a IA se transforma na "mãe solução", onde se acha tudo pronto, talvez numa condição infinitamente melhor do que seria mesmo nos meus melhores e mais inspiradores dias. E ainda é pior quando alguém diz "Uau! Ficou top! Vou assinar embaixo e dizer que é meu, de minha autoria". 

Na redação do Enem, não vamos ter essa chance. Lá não vou ter a quem recorrer. E se não tiver conhecimento, único e necessário recurso para nos salvar em um momento decisivo, ficaremos a sonhar, apenas sonhar, com a tão desejada nota mil.

*Carlos Delano Rebouças 

é mestre em Educação da Língua Portuguesa


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