Já contei por aqui que, em criança, li quadrinhos intitulados "Zé Curioso", que mostrava a aventura de um personagem cujo material foi publicado nos anos 40 pelo DIP-Departamento de Imprensa e Propaganda do governo getulista. Eram 19 revistas que chegaram às mãos de meu pai, Mário Bezerra, e que ele guardava com especial atenção. Com a mudança de Acopiara para Fortaleza, as revistas se perderam e sempre que eu pesquisava, ninguém me dava informação. Hoje, ao pesquisar no Google, encontrei matéria a respeito que reproduzo aqui como fonte a AQB-Ação dos Quadrinhos Brasileiros.
Certa vez comprei em um sebo um material raríssimo, tratava-se de um gibi próprio de um personagem brasileiro chamado Zé Curioso. Assinado por Calú, segundo o vendedor, tratava-se de um gibi publicado nos anos 40 pelo DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda do governo estadonovista de Getúlio Vargas.
E foi munido dessas informações que divulguei o personagem quando fundei a AQB (Ação dos Quadrinhos Brasileiros) - uma resposta ao fim da CQB (Central dos Quadrinhos Brasileiros), organização que cheguei a presidir por um tempo e que contou com grandes mestres da HQ Nacional (Emir Ribeiro, Gedeone Malagola, Claudio Seto, Edmundo Rodrigues e muitos outros) e seu desdobramento sob a forma de DQB (Democracia do Quadrinho Brasileiro), uma organização com uma proposta menos política que a CQB e que hoje está por trás do projeto A Ordem, pioneiro em publicar com financiamento prévio de leitores, uma revista especial com o encontro de diversos super-heróis brasileiros.
Por incrível que pareça a CQB se mobilizou junto a deputados do PT, Simplício Mato e Vicentinho, e quase conseguimos aprovar uma lei que garantiria a obrigatoriedade para as editoras publicarem uma cota de quadrinhos nacionais, enquanto as emissoras também seriam obrigadas a transmitir desenhos-animados brasileiros em sua programação.
Quem entrou em contato com tais deputados por carta foi Emir Ribeiro, que durante um tempo foi militante do PT, embora não o seja mais. Começamos essa campanha após a descoberta de outro membro da CQB, Erick Lustosa, que havia uma lei em vigor de obrigatoriedade das editoras publicarem 60% de quadrinhos nacionais entre suas tiragens, mas claro que a lei não era cumprida.
Na época da CQB a intenção era fazer com que a Lei fosse cumprida, não havia uma ideologia política explícita na CQB, e apesar do forte tom nacionalista das nossas propostas, havia essa ligação com o PT e também a presença de outros membros anarquistas atraídos pela presença do ativista punk Joacy Jamys, que trouxe outros punks para a CQB, que acabaram criando uma versão toda avacalhada da CQB, uma revista virtual repleta de quadrinhos underground, totalmente contra a proposta original da CQB
>> o falecido Joacy Jamys que trouxe anarquistas e punks para a CQB:https://web.archive.org/web/20090829052239/http://geocities.com/quadrinhos_cqb/opiniao14.htm
>> A "nova" CQB "punk": https://www.facebook.com/CQB-Quadrinhos-336646436447234/?fref=photo
>> A "nova" CQB "punk": https://www.facebook.com/CQB-Quadrinhos-336646436447234/?fref=photo
A AQB (Ação dos Quadrinhos Brasileiros) é uma resposta radical contra a nova CQB e a DQB: somos contra os quadrinhos underground desprovidos de valores positivos para a sociedade e contra a atual democracia! Defendemos a democracia ORGÂNICA, sem partidos políticos, que só será possível após uma INTERVENÇÃO MILITAR, e portanto, não acreditamos mais em parcerias com partidos políticos, já que mesmo o PT estando no poder não colocaram as leis propostas pela antiga CQB em funcionamento como prometeram pra nós!
>> entenda o que é uma INTERVENÇÃO MILITAR CONSTITUCIONAL:
http://novointegralismo.blogspot.com.br/2015/08/entenda-o-que-e-intervencao-militar.html
Ainda que nos posicionando politicamente ao extremo da DQB, parabenizamos a organização pelo sucesso da proposta A Ordem, pedimos permissão para discordar das posições democráticas da DQB mas isso não nos impede de apoiar um bom projeto e que é positivo para o país.
Em uma pesquisa mais minuciosa sobre o Zé Curioso descobri que as informações que veiculei anteriormente via AQB estavam erradas e venho através dessa matéria corrigí-las.
Zé Curioso não foi publicado pelo DIP estadonovista, mas cerca de 10 anos depois, em 1953, pela Cruzada Brasileira Anti-Comunista e pela ADC - Associação Democrática Cristã. Essas organizações nacionais eram uma fachada da USIA (United States Information Agency), um orgão do governo norte-americano que patrocinava publicações anti-comunistas no mundo inteiro e atuou bastante na América Latina e no Brasil. A USIA também, manteve um acordo com a editora GRD, do Integralista Gumercindo Dorea, que publicava além de livros Integralistas e de Ficção-Científica, obras anti-comunistas.
Zé Curioso foi o mais ousado projeto da USIA no Brasil, segundo o pesquisador Fernando Santomauro: "Outra história em quadrinhos produzida pela USIA especificamente para operários brasileiros era uma série chamada "Zé Curioso", de 1953, assinada pela Associação Democrática Cristã, de São Paulo. Os quadrinhos contavam a saga de um operário brasileiro que, por causa da propaganda comunista em sua fábrica, queria conhecer a realidade russa pessoalmente e, para isso, foi à embaixada soviética em Montevidéu, de onde poderia conseguir o visto para viajar à Moscou. Chegando na Rússia, Zé Curioso é recebido por funcionários do partido comunista que o levam aos lugares turísticos e o hospedam em um luxuoso hotel. Sempre acompanhado de algum funcionário do governo comunista, ele é levado a visitar algumas fábricas-modelo, com funcionários felizes, bem alimentados e trajados. A série de quadrinhos mostrava a permanência de Zé Curioso na URSS, por sua própria vontade. A partir daí, seu passaporte é confiscado e ele começava a conhecer a verdadeira realidade soviética contada pela USIA, com precariedade nos transportes, falta de liberdade e de condições de trabalho. Por se revoltar contra o sistema soviético de trabalho, Zé Curioso é torturado e acaba em um campo de trabalho forçado na zona rural. Por mandar cartas reclamando da URSS para sua mulher, interceptadas pelo serviço de espionagem soviético, Zé Curioso acaba sendo preso como espião americano e é forçado a confessar-se como espião. Os quadrinhos abordavam muitos dos temas do Brasil dos anos 1950, como acusações de infiltrações comunistas na Imprensa, no Governo, nos Sindicatos e no Judiciário. Além disso, toca também em temas como a nacionalização do petróleo brasileiro, que seria uma estratégia comunista para prejudicar os americanos e a liberdade brasileira."
Zé Curioso foi o mais ousado projeto da USIA no Brasil, segundo o pesquisador Fernando Santomauro: "Outra história em quadrinhos produzida pela USIA especificamente para operários brasileiros era uma série chamada "Zé Curioso", de 1953, assinada pela Associação Democrática Cristã, de São Paulo. Os quadrinhos contavam a saga de um operário brasileiro que, por causa da propaganda comunista em sua fábrica, queria conhecer a realidade russa pessoalmente e, para isso, foi à embaixada soviética em Montevidéu, de onde poderia conseguir o visto para viajar à Moscou. Chegando na Rússia, Zé Curioso é recebido por funcionários do partido comunista que o levam aos lugares turísticos e o hospedam em um luxuoso hotel. Sempre acompanhado de algum funcionário do governo comunista, ele é levado a visitar algumas fábricas-modelo, com funcionários felizes, bem alimentados e trajados. A série de quadrinhos mostrava a permanência de Zé Curioso na URSS, por sua própria vontade. A partir daí, seu passaporte é confiscado e ele começava a conhecer a verdadeira realidade soviética contada pela USIA, com precariedade nos transportes, falta de liberdade e de condições de trabalho. Por se revoltar contra o sistema soviético de trabalho, Zé Curioso é torturado e acaba em um campo de trabalho forçado na zona rural. Por mandar cartas reclamando da URSS para sua mulher, interceptadas pelo serviço de espionagem soviético, Zé Curioso acaba sendo preso como espião americano e é forçado a confessar-se como espião. Os quadrinhos abordavam muitos dos temas do Brasil dos anos 1950, como acusações de infiltrações comunistas na Imprensa, no Governo, nos Sindicatos e no Judiciário. Além disso, toca também em temas como a nacionalização do petróleo brasileiro, que seria uma estratégia comunista para prejudicar os americanos e a liberdade brasileira."
Não foi a única História em Quadros Ao Vivo anticomunista produzida por Calú pra USIA. "Comunistas contra o proletariado", segundo Santomauro: " contava a resistência do operariado alemão contra o regime comunista naquele país. As manifestações populares queriam livres eleições e o fim das leis trabalhistas ditadas pela União Soviética. O quadrinho contava a épica revolta, que destruiu as "luxuosas sedes do partido comunista" e expulsou, momentaneamente, os políticos soviéticos daquela região. A história em quadrinhos contava a história do violento contra-ataque comunista, comandado pela Ministra da Justiça conhecida como "Hilda Vermelha", quando milhares de pessoas teriam sido massacradas e instituída a ditadura comunista na Alemanha."
Nenhum comentário:
Postar um comentário