A atriz e cantora Ivonilde Rodrigues sendo dirigida pelo grande Luiz Fernando de Carvalho em "Velho Chico" |
Alguns dos atores convidados para atuar na segunda fase de "Velho Chico" chamam a atenção do telespectador mais atento. E não falo aqui do elenco principal, mas daqueles que foram arregimentados no Nordeste para dar conta da história que Benedito Rui Barbosa vem discorrendo sobre o coronelismo na região.
Embora atuando de forma passageira no capítulo de segunda feira, o primeiro da nova fase, chamou-me atenção a cantora e atriz cearense Ivonilde Rodrigues. Ao lado de Karla Karenina, marcada por demais por sua personagem Meirinha, o que se viu? Uma Ivonilde mostrando toda sua personalidade, atuando de forma natural, como qualquer veterana global. Já sabíamos dessa sua qualidade como atriz, demonstrada em palcos da ribalta cearense; mas a atuação junto ao grupo principal revelou uma artista com a qualidade exigida pelo diretor Luiz Fernando Carvalho.
Leia a seguir: Os Bastidores da novela, artigo de Maurício Stycer:
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Todos os olhos estão voltados para Antônio Fagundes e Marcelo Serrado, que gravam uma cena de “Velho Chico”, quando Luiz Fernando Carvalho interrompe tudo e grita: “Essas pessoas, parece, estão na fila pra comer! Se mexam!!!”
A reclamação do diretor é dirigida a um grupo de figurantes que vai aparecer na cena. Rapidamente, um assistente orienta os atores anônimos que compõem, sem falar, parte da sequência da festa do centenário de Encarnação (Selma Egrei).
A convite da Globo, assisti a uma tarde de gravação da novela na ilha de Cajaíba, em São Francisco do Conde (BA), cenário onde fica o casarão da família do coronel Afrânio de Sá Ribeiro.
A cena em questão, gravada no dia 4 de abril, foi exibida uma semana depois, no capítulo que marcou o início da nova fase de “Velho Chico”. Suando muito, Carvalho comandava cerca de 200 pessoas, entre técnicos, atores e figurantes.
Exigente e perfeccionista, o diretor faz um pouco de tudo. Carvalho se dá ao trabalho, por exemplo, de pegar um ator pelo braço e mostrar como quer que ele ande em cena. O público não vai ouvir, mas ele faz questão de dizer o que os figurantes devem sussurrar enquanto Iolanda (Christiane Torloni) entra em cena.
A certa altura, toma o megafone da mão de seu assistente e passa a dar as ordens. Em outro momento, sente a necessidade de um rebatedor de luz e, por conta própria, começa a segurá-lo, até que um assistente do diretor de fotografia pega o acessório.
Enquanto dirige, Carvalho se refere aos atores pelo nome dos seus personagens. “Iolanda, você entra e finge que não está ouvindo o que as mulheres falam de você”, orienta Torloni. E assim por diante.
A única exceção é Fagundes. O diretor só chama o protagonista de “Velho Chico” de “Fafá”. É engraçado, mas ninguém ri.
Carvalho, que já dirigiu Fagundes em inúmeros trabalhos (“Renascer”, “Rei do Gado”, “Esperança”, “Meu Pedacinho de Chão” e a inédita “Dois Irmãos”), parece se divertir com o ator em cena.
Já “Fafá'' é só elogios para o diretor: “O Luiz Fernando é um pintor, no sentido de que põe a mão na tinta. Alguns quadros ele pinta com o dedo, como o Van Gogh. Ele gasta tinta. Ele enfia a mão”. Carvalho retribui a rasgação de seda: “Só o Fagundes poderia fazer um personagem desse”. Brincalhão, o ator complementa: “É um conjunto: eu elogiei ele, ele tá me elogiando.”
Ao fim da gravação, enquanto os atores se retiram, Carvalho reúne todos os seus principais assistentes e repassa as principais necessidades do próximo dia de gravação. Para a cena que mostrará Afrânio tomando banho, exibida também no último dia 11, o diretor precisa que a equipe monte, de um dia para o outro, um banheiro no velho casarão. Os técnicos se olham e dizem que no dia seguinte haverá um banheiro no local.
O clima entre os principais assistentes do diretor é de respeito, sem maiores questionamentos às suas ordens. Mas parece também de muita boa-vontade e engajamento.
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