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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

LEITURAS. O que mudou no jornalismo após as redes sociais


Jornalismo explicativo-parte 2 – “como e por quê” – Ken Doctor no Observatorio

Os jornais nao podem mais exibir manchetes simples como Aviao cai na Ucrânia 18 hs depois das redes sociais
Ken Doctor é analista da indústria de mídia, autor de Newsonomics: Twelve New Trends That Will Shape the News You Get. Traduzido por Rodrigo Neves. Publicado no Observatorio da Imprensa. Leia anterior no Blue Bus – 1a parte do artigo.
A morte do ciclo tradicional de notícias é a chave para se entender todo o fenômeno de “jornalismo explicativo”. A internet obliterou as análises tardias sobre as notícias do dia anterior. Hoje, os leitores esperam entender completamente as notícias do dia assim que elas acontecem.
Os jornais, impressos ou não, não podem mais exibir manchetes simples como “Avião cai na Ucrânia” 18 horas depois de o evento ser discutido amplamente nas redes sociais. Os leitores não querem saber a opinião do jornal. Querem apenas que todos os fatos sejam costurados de uma forma inteligível.
A destruição do ciclo tradicional de notícias também é a causa principal no abismo que se abriu entre imprensa local e imprensa nacional ou global. Negócios digitais superestimam a escala nacional e subestimam o local.
Não é à toa que no noticiário local os fatos são cada vez menos explicados ao público. Nos Estados Unidos, o número de jornalistas locais diminuiu 30% nos últimos anos, com 18 mil demissões. Muito conhecimento sobre política e cultura local foi perdido. Muitos dos colunistas e repórteres locais que sempre explicavam assuntos relevantes ao seu público foram demitidos.
Devido aos cortes, muitos jornais preferiram ampliar os temas de cobertura do que aprofundá-los. Cada vez mais são produzidas notícias com pouca apuração, que mistificam mais do que esclarecem.
E é em um ambiente jornalístico cheio de notícias que não explicam as questões mais profundas que os leitores estão mais dispostos a pagar por explicações. Esta é a mentalidade do New York Times e do Washington Post ao criarem o Upshot e o Storyline. Cada vez mais esses jornais dependem diretamente de seus leitores, e leitores bem esclarecidos e satisfeitos são menos capazes de cancelar suas assinaturas. Além disso, artigos bons e inteligentes são mais compartilhados, o que se traduz com uma renda maior de publicidade.
O jornalismo explicativo não é definido pela nova tendência de veículos com esse foco e é muito mais antigo que isso. Mas essa nova tendência pode reviver esse tipo de jornalismo.
Então, se o jornalismo explicativo pode tornar o público mais esclarecido e aumentar a renda do jornal, como a imprensa local pode se aproveitar disso?
Alguns dos jornalistas mais novos podem ter a habilidade necessária para produzir este tipo de reportagem, mas necessitam ser liderados e ao mesmo tempo estarem livres para isso. É uma questão de dinheiro e de cultura de redação.
Questionado se o formato do Upshot poderia ser imitado em uma escala local, Leonhardt respondeu: “A diferença é que você não precisa de 17 pessoas para fazer isso. Você pode fazer isto com apenas três”.
(Artigo do Júlio Hungria, no BLUE BUS)

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