A pedido do Cláudio Ribeiro, andei remoendo as lembranças da Copa de 1994 e fazendo comparações com a deste ano no Brasil.
Estive nos EUA em companhia de Egídio Serpa. Além de boletins dos bastidores, cobria a parte de comportamento e cultura. Tinha até uma crônica que o editor Luis Sérgio Santos solicitou-nos. Tudo escrito numa Olivetti - a santa Olivetti, que Egídio em boa hora lembrou de levá-la.
Estive nos EUA em companhia de Egídio Serpa. Além de boletins dos bastidores, cobria a parte de comportamento e cultura. Tinha até uma crônica que o editor Luis Sérgio Santos solicitou-nos. Tudo escrito numa Olivetti - a santa Olivetti, que Egídio em boa hora lembrou de levá-la.
Na redação de O Povo, os computadores já começavam a tomar o lugar das máquinas de datilografia. Nos EUA, em todos os locais da Copa, muitos dos profissionais já adotavam as novas ferramentas de trabalho; mas, a gente ainda se dividia em fazer todo o material numa máquina de escrever e repassar depois via telex (alguém se lembra?) Era a nossa despedida das velhas companheiras de redação que, aos poucos, seriam banidas do local de trabalho.
O resultado do que vi, quando estive lá, está no caderno especial sobre a Copa do Mundo 2014.
NÓS E A OLIVETTI
Nonato Albuquerque
ESTADOS UNIDOS, 1994
Aprimeira pergunta que se faz sobre a Copa do Mundo da Fifa que está começando no Brasil, é o porquê de tanta apatia do público. Nunca antes na história deste país (aargh!) um evento desses frequentou mais as vozes de protesto do que as da empolgação. Se tivesse que comparar com a de 94, onde estivemos cobrindo para O POVO, diria que existe uma enorme diferença. Há 20 anos, os EUA não tinham tradição desse tipo de esporte.
Ao lado de Egídio Serpa, meu companheiro de jornada, a impressão que recolhíamos era de que o distanciamento do americano ao certame se explicava por ser a primeira vez que o soccer ganhava a visibilidade das manchetes, mesmo com a força que Pelé e Carlos Alberto deram no passado, via Cosmos.
A empolgação dos torcedores ao longo do certame se deveu mais ao público visitante – bote aí os brasileiros na frente dessa lista - do que ao americano comum, que tinha olhos mais para o futebol de bola oval do que ao esporte bretão.
O jornalismo ianque, fosse impresso ou televisivo, recolhia fatias da Copa, mas bem longe do ufanismo que é tradicional nas transmissões brasileiras. Só no feriado de 14 de julho, quando EUA enfrentaram o Brasil nas oitavas-de-final, é que vimos mais gente envolvida. Assim mesmo, a eliminação do país-sede esvaziou ainda mais o interesse daquela gente.
O Brasil sim, roubava a cena. Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos, Branco, Dunga, Mauro Silva, Mazinho, Zinho, Bebeto e Romário empolgavam por onde passavam.
Nos locais de treino, torcedores acorriam por um autógrafo e uma foto. Na casa que a cervejaria Brahma instalou em Los Gatos, o jornalismo almoçava e jantava notícias do mundial. E bebia-se, claro.
Era por lá, onde eu e Egídio circulávamos com a única Olivetti presente nas redações – Zózimo Barroso do Amaral chegou a citá-la na sua coluna – por contrastar com a tecnologia de ponta que já era visível entre os profissionais de outros países.
Meu trabalho era o de escrever uma crônica sobre comportamento, cultura e gente – que Luis-Sérgio Santos a denominou de ‘Cartas da Califórnia’ -, além de auxiliar Egídio na leitura dos jornais estadunidenses e ir com ele aos treinos para arranjar notícias.
Ao contrário de outros repórteres brasileiros que tinham base em Orlando, nós dois acompanhamos a seleção por todos os locais onde ela atuou. De Los Gatos, passando pelo Stanford Stadium em Palo Alto, Rose Bowl, Pontiac em Detroit, pelo Cotton Bowl em Dallas, até a final – os brasileiros, vivemos mais empolgação lá fora do que estou sentindo hoje em dia com a Copa à beira de nossa porta. Estranho isso!
Nonato Albuquerque, jornalista, radialista e apresentador de TV, cobriu a Copa de 1994 pelo O POVO nos Estados Unidos
NÓS E A OLIVETTI
Nonato Albuquerque
ESTADOS UNIDOS, 1994
Aprimeira pergunta que se faz sobre a Copa do Mundo da Fifa que está começando no Brasil, é o porquê de tanta apatia do público. Nunca antes na história deste país (aargh!) um evento desses frequentou mais as vozes de protesto do que as da empolgação. Se tivesse que comparar com a de 94, onde estivemos cobrindo para O POVO, diria que existe uma enorme diferença. Há 20 anos, os EUA não tinham tradição desse tipo de esporte.
Ao lado de Egídio Serpa, meu companheiro de jornada, a impressão que recolhíamos era de que o distanciamento do americano ao certame se explicava por ser a primeira vez que o soccer ganhava a visibilidade das manchetes, mesmo com a força que Pelé e Carlos Alberto deram no passado, via Cosmos.
A empolgação dos torcedores ao longo do certame se deveu mais ao público visitante – bote aí os brasileiros na frente dessa lista - do que ao americano comum, que tinha olhos mais para o futebol de bola oval do que ao esporte bretão.
O jornalismo ianque, fosse impresso ou televisivo, recolhia fatias da Copa, mas bem longe do ufanismo que é tradicional nas transmissões brasileiras. Só no feriado de 14 de julho, quando EUA enfrentaram o Brasil nas oitavas-de-final, é que vimos mais gente envolvida. Assim mesmo, a eliminação do país-sede esvaziou ainda mais o interesse daquela gente.
O Brasil sim, roubava a cena. Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos, Branco, Dunga, Mauro Silva, Mazinho, Zinho, Bebeto e Romário empolgavam por onde passavam.
Nos locais de treino, torcedores acorriam por um autógrafo e uma foto. Na casa que a cervejaria Brahma instalou em Los Gatos, o jornalismo almoçava e jantava notícias do mundial. E bebia-se, claro.
Era por lá, onde eu e Egídio circulávamos com a única Olivetti presente nas redações – Zózimo Barroso do Amaral chegou a citá-la na sua coluna – por contrastar com a tecnologia de ponta que já era visível entre os profissionais de outros países.
Meu trabalho era o de escrever uma crônica sobre comportamento, cultura e gente – que Luis-Sérgio Santos a denominou de ‘Cartas da Califórnia’ -, além de auxiliar Egídio na leitura dos jornais estadunidenses e ir com ele aos treinos para arranjar notícias.
Ao contrário de outros repórteres brasileiros que tinham base em Orlando, nós dois acompanhamos a seleção por todos os locais onde ela atuou. De Los Gatos, passando pelo Stanford Stadium em Palo Alto, Rose Bowl, Pontiac em Detroit, pelo Cotton Bowl em Dallas, até a final – os brasileiros, vivemos mais empolgação lá fora do que estou sentindo hoje em dia com a Copa à beira de nossa porta. Estranho isso!
Nonato Albuquerque, jornalista, radialista e apresentador de TV, cobriu a Copa de 1994 pelo O POVO nos Estados Unidos
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