A pauta, segundo a narração esportiva
Texto de Duda Rangel
Comeeeço de pauta, torcida brasileira. Olha lá o repórter, já se manda para o ataque. Não quer perder tempo. Vai ligar para o entrevistado, precisa apurar mais alguma informação para fechar o texto. Pega o celular pelo canto esquerdo da mesa, tá procurando o telefone da fonte. Não acha. Recomeça o lance. Abre agora a gaveta pela direita, procura o bloquinho. Deve ter anotado em algum lugar este telefone.
Comentarista:
Tá um começo de pauta meio desorganizado. Tá faltando criatividade ao repórter para encontrar o telefone da fonte.
Narrador:
O repórter decidiu jogar no Google o nome do assessor. Tá lá, consegue o telefone do assessor, parece que ele vai ligar. Ligou. O telefone tá tocando, tá tocando, tá tocando! Cadê o assessor, minha gente? Atendeu! Pede para esperar um instantinho. Que música chata, torcida brasileira. O repórter espera! (Merchan: tá no vermelho? Tá precisando pagar o aluguel? Ligue agora para a CrediPress, a única financeira que empresta dinheiro só para jornalistas. Saia da miséria hoje mesmo!) E o repórter ainda tá esperando o assessor.
Comentarista:
É uma pauta de muita paciência. Não vai ser fácil furar a retranca do assessor.
Narrador:
Acabou a musiquinha chata, o assessor voltou. Diz que a fonte está numa reunião. Sei não! Tá com cara de simulação. A fonte tá fazendo cera. O assessor pede pro repórter ligar mais tarde. O repórter diz tudo bem, mas tá ansioso. O que é que só você viu?
Repórter de campo:
O editor, aqui na beira da redação, já pediu para o repórter dar um gás na pauta, porque hoje o deadline tá apertado.
Narrador:
Haaaja emoção! O repórter decide se levantar da mesa, acho que vai tomar um café. Sai pela esquerda, dribla a mesa do editor, passa pela secretária, consegue chegar à maquina do café. Procura as moedas. Cadê as moedas? Como é atrapalhado esse repórter! Acha as moedas no bolso pela direita. Aperta o botão. Cappuccino. Sem açúcar. O teeempo passa. O repórter tá nervoso por causa do entrevistado que não fala. Acaba de beber o cappuccino, decide voltar para sua mesa. Vai ligar de novo pro assessor. Tá voltando pra mesa. Que é isso? Ele deu uma bela olhada pra bunda da estagiária gostosa. Pode isso?
Comentarista de arbitragem:
Pode, claro que pode. Quem nunca olhou pra bunda da estagiária gostosa? Lance normal. Segue a pauta.
Narrador:
(Merchan: tá a fim de comprar um livro sobre jornalismo com bom humor? Compre já “A vida de jornalista como ela é”, do Duda Rangel. À venda pela página do blog no Facebook!) O assessor pede para o repórter esperar na linha. Acho que acabou a reunião. Não, acabou não. Ou melhor, acabou, mas o entrevistado já entrou em outra reunião. Tá complicada a vida do repórter. E você confere comigo o teeempo da pauta. Faaaltam 20 minutos para o deadline!
Comentarista:
O que o entrevistado está fazendo é a típica antipauta. O fair play passou longe.
Narrador:
(Merchan: Dia dos Namorados chegando e você encalhado, amigo jornalista? Cadastre-se hoje mesmo no Dateline.com, o único site de relacionamento dedicado exclusivamente a jornalistas encalhados. Saia da seca hoje mesmo!) Olha lá o repórter, descolou o celular do entrevistado. Vai ligar direto para a fonte. Não quer esperar mais. Ligou! O celular toca, toca. Atendeu a fonte. Agora não dá pra fugir mais. O repórter é rápido, já faz uma pergunta, mais outra, anota tudo. Quero ver só entender esta letra depois. Faz uma terceira pergunta. Já pode pedir música no Fantástico. Conseguiu tudo.
Repórter de campo:
O editor já avisou que não vai acrescentar nenhum minuto. É só o tempo regulamentar do deadline mesmo.
Narrador:
Minuuutos finais de pauta. O repórter começa a escrever. Tá tentando entender a letra no bloquinho. Eu avisei que não seria fácil. Ele mal respira. É concentração total agora. A estagiária gostosa passa desfilando ao lado do repórter e ele nem percebeu. Por essa ninguém esperava.
Comentarista:
É como diz aquele velho ditado: “cabeça de jornalista é uma caixinha de surpresas”.
Narrador:
Olha lá, o repórter já começa a redigir o título. Não vai dar nem tempo de revisar. Vai lá, vai apertar o “enter”. Apertooou o “enter”. A matéria foi embora, com todas as aspas que o repórter tanto queria.
Comentarista:
Eu diria para você que foi uma pauta apertada, mas o resultado acaba sendo justo, porque o repórter batalhou a informação, teve paciência para quebrar a retranca do entrevistado.
Narrador:
Feeecha-se o template! Fiiim de pauta, torcida brasileira!
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