O sequestro de um avião da Varig para Cuba, feito por dois cearenses moradores do Conjunto Ceará, completou recentemente 30 anos. O desvio do Boeing Airbus da Varig-Cruzeiro, prefixo PP-CLB, ganhou manchetes internacionais, virou documentário dirigido por Bené Saboia e, atualmente, está em vias de virar um longa metragem.
João Luiz de Araújo e Fernando Antonio Santiago (foto ao lado) promoveram o seqüestro no dia 3 de fevereiro de 1984. Eles embarcaram em Fortaleza, num voo que seguia para Manaus. Depois da escala em São Luiz obrigaram o comandante a desviar o avião para Cuba.
O voo contava com 158 passageiros que tiveram que descer em Paramaribo, capital do Suriname, após uma série de negociações dos seqüestradores com a Embaixada do Brasil naquele país. De lá, a aeronave foi levada para a ilha de Fidel Castro.
O avião pousou em Camaguey, enquanto a pista foi tomada por militares que levaram os cearenses para um interrogatório. Tanto João quanto Fernando contam que foram interrogados durante três dias pela polícia cubana, interessada mais em conhecer pormenores do processo de reabertura democrática que estava sendo anunciada pelo governo da ditadura. João Figueiredo estava no poder.
“A nossa ação naquela época pode ter surpreendido a muitas pessoas” conta João Luiz no documentário, desfazendo a idéia de que se tratavam de jovens sem nenhuma vinculação com os movimentos de esquerda. No Brasil, chegou-se a comentar que se tratava de um episódio completamente fora do contexto.
Até o escritor Fernando Morais, cujo livro"A Ilha", teria sido o inspirador da dupla para a ação terrorista, surpreendeu-se na época. "Essa é uma história completamente espantosa. Jamais poderia passar pela minha cabeça, no dia que sentei à máquina para escrever esse livro, que três garotos fossem sair de Fortaleza, entrar num avião, tocar um revólver na cabeça e dizer ao comandante: toca pra Cuba”, contou Fernando Morais.
Na verdade, o seqüestro envolveu uma outra figura, Raimunda Santiago, esposa de Fernando na época, que se juntou aos dois interessada em viver a realidade que se propagava de Cuba naquela ocasião.
Atualmente João Luiz, que se formou em Psicologia em Cuba, atende a população carente numa unidade do Capes, em Ipueiras, no interior cearense. Já Fernando mora em Minas Gerais. Raimunda, separada de Fernando, pediu para que seu nome fosse esquecido desse episódio.
O cineasta Bené Sabóia, no entanto, quer aprofundar mais ainda essa história. Em conversa conosco disse estar concluindo o roteiro do longa “Último Pau de Arara”, mesmo título do documentário realizado em 2001.
Desde que foi lançado, o trabalho ganhou vários prêmios entre os quais o do Ceará de Cinema e Vídeo, se Secult: o do Festival Guanicê do Maranhão, em 2002 e o de Camboriú, em Santa Catarina.
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