Espécie de embaixador informal de seu estado,
Halder mostra que está atento ao alcance da cultura cearense
especialmente por escolhas como a de legendar seu filme em português — o
que rendeu assunto nas redes sociais.
— Quando o cearense fala rápido, já não é o idioma nacional: é um dialeto — reconhece.
Primeiro, a história de “Cine Holliúdy”, sobre um homem apaixonado por cinema no interior do Ceará, deu origem a um curta.
—
Eu e Ana Maria Bahiana estávamos na plateia quando o curta foi exibido
no Festival do Rio, em 2005, e nos apaixonamos pelo filme. Fomos atrás
do Halder para dizer que ele tinha que transformar aquilo, uma história
fascinante, uma ideia genial, num longa — conta José Emílio Rondeau,
jornalista e diretor do filme “1972” (2006).
Nascido em Senador
Pompeu, a 273 quilômetros de Fortaleza, Halder sempre foi, desde menino,
um observador das peculiaridades de sua terra e, principalmente, de sua
gente — e sonhava em contar as histórias do Ceará para o mundo. Na
conexão Senador Pompeu-Fortaleza-Los Angeles em que viveu, esse sonho,
por incrível que pareça, fazia cada vez mais sentido. Nos EUA, Halder
fez de trabalhos de stunt fighter (dublê de lutas) a assistência de
produção, passando por aulas de taekwondo.
O sonho americano-cearense começou a se concretizar na década de 90, quando o
cineasta foi trabalhar pela primeira vez nos EUA — anos antes, ele já havia
vivido lá um choque, térmico, em seis meses de intercâmbio estudantil, do
mormaço do sertão para o inverno de oito graus Celsius negativos de Detroit.
Desde essa época, o cinema e a luta se misturavam em seus planos para o futuro — da mesma
forma como aconteceu com vários outros diretores, que também se apaixonaram pelo
mundo dos filmes ao mesmo tempo em que se fascinaram com Bruce Lee (Tarantino é
uma referência para o cineasta). Foi assim que Halder, formado em Admistração,
tornou-se mestre de taekwondo e diretor de cinema.
Depois de fechar sua academia
de artes marciais em Fortaleza e de dirigir um documentário (“Loucos de
futebol”), um filme sobre espiritismo (“As mães de Chico Xavier”) e “Cadáveres
2” (embora não tenha havido um “Cadáveres 1”), Halder está enfim realizando o
sonho de sair por aí divulgando as coisas do mundo cearense. Entre elas, estão
fatos como a popularidade de nomes como Francisgleydisson e o antigo fascínio
pela Telefunken colorida 12 faixas.
— Eu me lembro de quando a
gente foi assistir ao jogo da seleção na Telefunken do gerente do Banco do
Brasil. Sabe, gerente do Banco do Brasil é uma espécie de autoridade na cidade
do interior, assim como o prefeito — lembra Halder.
Outras referências de infância
são Odair José, Fernando Mendes e Márcio Greyck, que faz uma participação
especial em “Cine Holliúdy”. Esse negócio de querer transformar tudo em cinema,
o pai de Halder, José Rolin Gomes, nunca entendeu, mas, enquanto viveu, sempre
apoiou. Industrial do ramo de algodão e dono de fazenda, ele tinha suas razões
para achar complicado o filho escolher se dedicar a algo incerto e que está
sempre recomeçando, como a atividade de fazer filmes. Ainda mais no Brasil. E
ainda mais no Nordeste. Mas, pelo menos, a mudança da família, de Senador Pompeu
para o Ceará, ajudou tanto no cinema quanto nas artes marciais.
Foi da ligação com o universo
das lutas que surgiu o nome de sua filha, Kyra, ideia que o cineasta teve por
causa da lutadora Kyra Gracie.
— Os Gracie têm isso de
colocar nomes fortes nos filhos, e eu estava em busca de um nome assim que
pudesse ser pronunciado em qualquer língua — conta Halder, que, depois de
namorar por nove anos, casou e teve Kyra, hoje com 8 anos.
A determinação de espalhar
fábulas cearense pelo mundo rende agora também uma peça de teatro, “Made in
Ceará”, com o mesmo ator que é protagonista de “Cine Holliúdy”, Edmilson Filho,
que foi escolhido para o filme por ser ao mesmo tempo ator e lutador
profissional. Mais: além de cearense, Edmilson mora nos EUA. É muita coisa em
comum com Halder Gomes. Na peça, os temas são as diferenças culturais entre
Ceará e Los Angeles.
— Lá no Estados Unidos, na
hora de pôr a criança para dormir, a mãe conta história de fada, de princesa, de
mágico, de herói. No Ceará, a mãe conta história do Chupa-Cabra, do Papa-Fígado,
do Perna-Cabeluda...
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