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E aí, pintou aquela dúvida se deve continuar aplaudindo o movimento das ruas ou se acercou de você o temor de que o vandalismo vá trazer consequências piores? Seria bom ler o artigo de hoje do ombudsman da Folha, Suzana Singer, acerca dos movimentos de rua que estão a dividir a opinião pública.
E aí, pintou aquela dúvida se deve continuar aplaudindo o movimento das ruas ou se acercou de você o temor de que o vandalismo vá trazer consequências piores? Seria bom ler o artigo de hoje do ombudsman da Folha, Suzana Singer, acerca dos movimentos de rua que estão a dividir a opinião pública.
Bicho de sete cabeças
Se os jovens 'caras-pintadas' eram vistos com simpatia, os 'rebeldes do asfalto' assustam e ainda precisam ser decifrados
A multidão que tomou as ruas das capitais do país deixou desnorteados
não apenas os políticos e intelectuais mas também a imprensa.
Com uma força inesperada, o movimento conseguiu dobrar prefeitos e
governadores, levou a presidente a desfiar promessas e impôs, por um bom
tempo, o tom da cobertura.
Se os primeiros protestos, menores mas ruidosos, foram descritos com as
cores do vandalismo, o discurso mudou depois de uma enxurrada de
críticas nas redes sociais. O que se via na semana passada,
principalmente na televisão, era uma preocupação obsessiva em sublinhar
que as passeatas são "pacíficas" e que apenas um "pequeno grupo" aparece
no final de cada ato para depredar, pichar e saquear.
Bicho de sete cabeças
Se os jovens 'caras-pintadas' eram vistos com simpatia, os 'rebeldes do asfalto' assustam e ainda precisam ser decifrados
A multidão que tomou as ruas das capitais do país deixou desnorteados
não apenas os políticos e intelectuais mas também a imprensa.
Com uma força inesperada, o movimento conseguiu dobrar prefeitos e
governadores, levou a presidente a desfiar promessas e impôs, por um bom
tempo, o tom da cobertura.
Se os primeiros protestos, menores mas ruidosos, foram descritos com as
cores do vandalismo, o discurso mudou depois de uma enxurrada de
críticas nas redes sociais. O que se via na semana passada,
principalmente na televisão, era uma preocupação obsessiva em sublinhar
que as passeatas são "pacíficas" e que apenas um "pequeno grupo" aparece
no final de cada ato para depredar, pichar e saquear.
Mesmo assim, os repórteres sentiram nas ruas a animosidade fomentada no
mundo virtual. Jornalistas da Rede Globo foram hostilizados, carros da
Record e do SBT foram queimados, repórteres não conseguiam entrar ao
vivo do meio das passeatas.
No "Jornal Nacional" de quinta-feira, William Bonner precisou dizer que o
"trabalho da imprensa é exatamente para dar voz às reivindicações de
todos os manifestantes" e lamentou que "minorias [...] tentem intimidar o
trabalho da imprensa, que está fazendo um serviço de utilidade
pública".
Não é mais verdade que os manifestantes precisem da mídia para lhes dar
voz. Isso mudou com a internet, mas Bonner tem razão em falar de
"utilidade pública". Cabe ao jornalismo explicar aos 192 milhões de
brasileiros que não foram às ruas o que está acontecendo no país, com a
maior objetividade possível.
Não é tarefa simples. Como resumir manifestações com reivindicações
caleidoscópicas? Como analisar esse mal-estar urbano que ninguém
percebeu que existia? Quem entrevistar, se são milhares e não há
líderes? Esse tsunami popular entrará para a história ou ficará restrito
à vitória dos 20 centavos?
Enquanto não se decifra a insatisfação que tomou o asfalto, a cobertura
se reveza em um "morde-assopra", dependendo do grau de vandalismo dos
protestos. Na quinta-feira, a Folha fez uma capa em tom
triunfalista, que anunciava que "PROTESTOS DE RUA DERRUBAM TARIFAS",
escrito assim, tudo em letras maiúsculas. No dia seguinte, o destaque
era a violência se espalhando pelo país.
A vida era bem mais fácil no século passado, quando os simpáticos caras-pintadas queriam derrubar Fernando Collor de Mello.
Como hoje, os estudantes rechaçavam a participação de partidos
políticos, mas, na época, havia uma bandeira clara e digerível (o
impeachment de um presidente envolvido em denúncias de corrupção).
Não tinham inventado a web e o clima com a imprensa era de
congraçamento. Nos atos, nada de vandalismo. "Uma explosão de cor tomou
ontem o coração de São Paulo e de dezenas de cidades em todo o
território brasileiro", comemorava o editorial "O alerta das ruas", de
26 de agosto de 1992, que falava da "indignação dos [adolescentes] que
não perderam a capacidade de se revoltar com o espetáculo de afronta ao
interesse público".
As revoltas urbanas de hoje são mais difíceis de classificar e, se for o
caso, de abraçar. Porque, como bem definiu Gilberto Gil, elas mesclam a
festa com o banditismo. É a "rave-arrastão".
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ERAM MAIS DE 65 MIL
O cálculo de que havia 65 mil pessoas no protesto de segunda-feira em
São Paulo provocou uma grita nas redes sociais. Quem esteve lá garante
que passavam de 100 mil manifestantes.
O Datafolha, que fez a contagem, explica que essa estimativa era apenas
do público que estava concentrado no largo da Batata antes de começar a
passeata.
O instituto não conseguiu medir a manifestação em movimento, porque o
percurso não foi definido com antecedência, como aconteceu com a Parada
Gay ou a Marcha para Jesus. Não entra na conta dos 65 mil quem aderiu à
marcha enquanto ela passava por diferentes pontos da cidade. Faltou à
edição deixar isso claro.
Em meio a tantas incertezas, o Datafolha tem jogado luz sobre quem são esses manifestantes.
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