Tem gente que tem histórias incríveis. E sabe contá-las, como ninguém. Artur Xexéo, jornalista e colunista na Globo. Nos últimos tempos, ele deu para escrever lembranças. E elas fazem parte da história deste País. Da história de todos nós.
"Eu sou do tempo do papel carbono, do fax, do telex. Eu sou do tempo do telefone com fio. Do número de telefone com seis dígitos (o meu era 576358). Do tempo em que se ficava esperando linha.ORIGINAL
Eu sou do tempo da CTB!
Eu sou do tempo da máquina de escrever, da régua de cálculo, da introdução à ciência dos computadores, da tabuada. Das aulas de Educação Moral e Cívica, de Trabalhos Manuais, de Canto Orfeônico.
Eu sou do tempo do Grupo Escolar.
Eu sou do tempo do Kibombom, tempo da Cuba Libre, da cascata de camarão, arroz de forno.
Eu sou do tempo do arroz doce de sobremesa.
Eu sou do tempo da prancha de isopor, do maiô de duas peças. Tempo do sapato Vulcabrás, da calça boca de sino, da miniblusa.
Eu sou do tempo dos moldes de Gil Brandão.
Eu sou do tempo em que era uma pena a televisão não ser a cores, tempo da mensagem do nosso patrocinador, das boas casas do ramo.
Eu sou do tempo em que a TV tinha botão de ajustes para vertical e horizontal.
Eu sou do tempo do sheik de Agadyr, de Demian, o justiceiro, da minha doce namorada. Tempo de Gladys e seus bichinhos, do Câmera 1, do Rio Hit Parade.
Eu sou do tempo da garota-propaganda.
Eu sou do tempo do cartão postal e do telegrama. Sou do tempo do gravador de $, do compacto simples, do tempo do Long- Play.
Eu sou do tempo dos festivais, do Cinema Novo, do teatro de protesto. Sou do tempo da Leila Diniz, da Brigitte Bardot, da Luciana Paluzzi. Do tempo da Eliana Macedo, da Nádia Maria, da Zezé Macedo.
Eu sou do tempo da Sonia Mamede!
Eu sou do tempo em que se assistia a estreias de filmes do Hitchcock, em que tinha teatro no MAM. Sou do tempo do baile no Municipal, das escolas de samba na Presidente Vargas, do concurso de misses no Maracanãzinho.
Da Bethânia no Teatro Miguel Lemos, da Elis no Teatro da Praia, do Caetano no Terezão.
Eu sou do tempo do Estado da Guanabara.
Eu sou do tempo da Barbosa Freitas, do Príncipe, que vestia hoje o homem de amanhã, da Ducal, das Mercearias Nacionais, da sloper. Sou do tempo da cama Dragoflex, da cadeira do papai, do cigarro sem filtro. Do tempo da Panair, da Cruzeiro do Sul, tempo em que se ia à Europa de navio.
Eu sou do tempo da Varig.
Tempo da praia em frente à Montenegro, do Zeppelin (o bar, não o dirigível), do Beco da Fome. Da fantasia de tirolês, do Almanaque de Férias da Luluzinha, da domingueira no Piraquê.
Eu sou do tempo do Tivoli Parque.
Eu sou do tempo em que a nota de mil cruzeiros era chamada de Cabral. Eu sou do tempo...
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