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quarta-feira, 20 de março de 2019

CINEMA. A molecagem de volta à telona com "Cine Holiúdy 2"

O diretor Halder Gomes sabia que Cine Holliúdy (2012) seria um marco em sua carreira. O sucesso do filme, no entanto, foi além de qualquer expectativa: levou quase meio milhão de brasileiros para o cinema em 14 semanas de exibição. A saga do apaixonado Francisgleydisson (Edmilson Filho), o projecionista de Pacatuba (CE), ganhou sequência, Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral, que estreia nesta quinta-feira (21/3). Esse é um trecho da matéria "Halder Gomes leva cearensidade de volta às telonas", publicada hoje no site Metrópoles. 


“O primeiro fala do fim dos cinemas nas cidades do sertão do Ceará. O segundo mostra os realizadores mambembes do interior do Brasil, que fazem filmes para suprir essa carência deixada pela morte dos cinemas. Eles produzem e exibem os próprios conteúdos. Tem toda uma metamorfose acontecendo hoje no Nordeste”, afirmou o diretor. Ele visitou Brasília ao lado de Falcão para promover o filme. O cantor repete o papel que marcou sua estreia como ator, o cego Isaías.
Embora o gênero favorito da população de Pacatuba sejam os “filmes com bastante pancadaria” – como bem diz o padre Mesquita (Jorge Ritchie) –, a sequência da odisseia de Francis e seu filho, Francin (Ariclenes Barroso), fala do fascínio do povo cearense pela ufologia. Nos deparamos, então, com uma comédia de ficção científica nordestina.
“O universo do sci-fi sempre me seduziu muito, eu tinha esse desejo guardado. É difícil convencer o investidor, pois dizem que o gênero no Brasil não é legal. A proposta de misturar com comédia traz um ponto de interesse. Além disso, o histórico de disco voador no Ceará é algo muito sério”, comenta Halder, fã, desde menino, da série Perdidos no Espaço. O diretor citou a cidade de Quixadá como principal referência para a ufologia do estado. “Ela fica no meio do caminho da minha cidade natal até Fortaleza. Meu pai pedia para tomar cuidado na estrada, para não viajar à noite”, lembra.
Não é só o medo de extraterrestres que evoca memórias de infância no diretor e no ator. “Eu vivi tudo aquilo quando era menino. Os interiores, aquele calor… A gente levava as cadeiras de casa para ver o filme, o cabra só levava as fitas e projetava o filme na parede. Eu gostava muito de sci-fi, de filme de Bruce Lee”, lembra o cantor que, para promover o longa, se vestiu com muita discrição, porque “a estrela é o filme”: calça estampada de amarelo e preto, camisa amarela, um blazer preto de notas musicais e o tradicional girassol na lapela, além dos chinelos de cores trocadas.
O tema mais importante da sequência talvez seja a ideia de sair de casa para “ser alguém”. Gomes não saiu do Ceará e não pretende fazê-lo: seu plano é, cada vez mais, atrair investimentos e intercâmbios profissionais para o estado. “O sucesso do Cine Holliúdy me proporcionou uma situação muito privilegiada, porque essas histórias seduzem o investidor até o meu estado. Eu conto minhas histórias, movimento nossa economia, o que traz melhora para a qualidade dos profissionais, e a gente ainda exporta nossa cultura com o dinheiro dos outros. Por que ir embora nesse contexto? O Francis também chega a essa conclusão”, reflete o diretor.
O primeiro filme termina em uma nota triste: à época, apenas cinco cidades do Ceará tinham salas de cinema, contando Fortaleza, a capital. Anos depois, Gomes abre um largo sorriso ao informar que, agora, o estado tem nove cidades com cinemas. “A autoestima no mercado mudou drasticamente. O filme materializou um sentimento da cearensidade, que é o nosso humor, nossa forma de falar, os nossos comediantes. Olha que nobre, o cinema fez isso com a nossa cultura”, comenta.

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