domingo, 20 de maio de 2018

RÁDIO. Boda real me faz lembrar que 'matei' a rainha

A RAINHA DA INGLATERRA QUE EU 
MATEI MAS NÃO MORRE NUNCA
originalmente escrito no Facebook

Essa é uma história que já contei N vezes. A do início de minha vida no rádio, em Iguatu, com 14 anos, estagiário na Rádio Iracema e o "fake-news" que eu provoquei. Eu "matei" a Rainha Elizabeth.

Era o ano de 1964 e eu era o responsável pelo noticiário nacional e internacional da rádio. A gente gravava os boletins da Globo, Tupi, Sociedade da Bahia e outras estações e, depois, compilava-os.

Naquela manhã, estava sintonizado na Globo carioca quando a programação é interrompida pela vinheta de "O Globo no ar, em edição extraordinária".

Corro para o gravador - aqueles dinossáuricos Phillips grandes, de fitas Scotch em carretéis enormes e que sempre davam problemas.

As estações do sul chegavam com certa dificuldade no interior. A onda, às vezes, fazia sumir o som, deixando muita coisa imperceptível.

Naquele instante, o locutor abriu o boletim com tom grave, dando a procedência do fato. " E atenção, Londres, urgente!"
E leu a notícia: " Acaba de falecer, esta manhã..." E aí, o som da voz dele foi suplantado por um enorme chiado, coisa comum naqueles grotões do sertão. Quando ficou audível novamente, ouviu-se claramente o nome da rainha Elizabeth. E acrescentou que a Casa Real Britânica declarara luto oficial de três dias.
Fui ouvir a gravação e não conseguia distinguir o que estava por trás do chiado de jeito nenhum. Chamei o narrador, Walter Sudário, para ouvir comigo e eu disse:
- Eu acho que foi a rainha que esticou as canelas. Vou datilografar rápido e vamos botar no ar esse furo.
Dito e feito. Pouco tempo depois da Globo, fomos nós no interior cearense os primeiros a noticiar a morte da (já) velha senhora.
O telefone tocou na redação. Corri para atendê-lo. Era doutor Lindenor Osterne de Oliveira, o diretor geral da emissora. No lugar do esperado elogio, ouvi um tremendo cagaço.
- Quem foi esse desgramado que mandou o Walter dá essa notícia. Quem morreu foi uma tia-avó da rainha da Inglaterra.
Engoli seco; mas era lá besta de dizer que tinha sido eu. Num era doido de me incriminar, logo na primeira semana de trabalho. Inventei que foi um rapazinho que ouviu, mas ele já tinha ido embora.
Resumo da obra - expressão bem expressiva para esse "imbróglio" -, tivemos que dar um extra corregindo a informação.
Não perdi o emprego, mas aprendi duas lições. A de que não se deve preocupar em dar furos, sem a completa certificação do fato. E a outra: que, depois que "matei" a rainha, a velha tem resistido um bocado. Dei sorte a ela.
Hoje cedo, o operador de áudio da Povo-CBN, Kiko Gomes, me ligou lembrando esse episódio e perguntando se eu nao havia recebido convite para as bodas do príncipe Harry com Meghan Martle.
- Não, respondi rindo. E ele acrescentou: "vai ver, que ela não te perdoou ainda por esse teu crime".

Um comentário:

  1. kkkkkkkkk. Acompanho sempre o blog, mas é a 1ª vez que comento. Que história legal essa sua. Época que a internet nem sonhava em existir. kkk

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