domingo, 25 de agosto de 2013

MÚSICA. Erros e licença poética na MPB

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 "Espero a chuva cair de novo 
pra mim voltar pro meu sertão". 
(Asa Branca-Gonzaga e Teixeira)

Toda vida que eu ouço esses versos de Gonzaga e Teixeira, fico perturbado com o erro de português que a letra carrega. Claro, alguém vai dizer que os autores repetem a 'língua do povo', mas estou querendo dizer é que expressões inadequadas assim me tiram do sério. Outra música da minha juventude, que a Wanderléa cantava sempre me chama atenção também. "Vou na capela rezar..." Ela pode ir à capela, pois ir na capela significa que ela foi de capela.

Fui pesquisar outros cochilos do cancioneiro envolvendo erros de português. Alguns, evidentemente, são propositais como os da música Inútil, do Ultraje a Rigor.

Inútil!
A gente somos inútil!
Inútil!
A gente somos inútil!
(Inútil-Roger Moreira)

E o que dizer de Lobão ao citar  

Aonde está você? Me telefona”

Segundo uma internauta, o pronome aonde só deve ser empregado com verbos que indiquem ação e não estado. "Assim, é correto dizer aonde você vai, aonde você está me levando, etc. já que os verbos ir e levar indicam ação. Pelo mesmo motivo, é errado dizer aonde você está, aonde é o lugar, etc., pois os verbos ser e estar são verbos de estado".

E Chico Buarque cometeu certos "erros" gramaticais, que, no entanto, são conscientes, mantidos por opção estilística". 

... mas não se atreve
Num país distante como o meu
(Nina-Chico Buarque de Hollanda)



É, mas tem casos na MPB que só a 'licença poética' é capaz de explicar. Adoniran Barbosa, por exemplo, cometeu erro de propósito, ao retratar o modo de falar do paulistano. 
Veio os "home" com as ferramenta 
E o dono "mandô derrubá" 
Peguemos todas nossas coisas 
E fumos pro meio da rua 
(Saudosa Maloca-Adoniran Barbosa) 

O mesmo pode ser dito em relação a Arnaldo Antunes na música FORA DE SI

Eu fico louco / eu fico louco / eu fico fora de si 
eu fica assim / eu fica fora de mim
                                                      (Fora de si - Arnaldo Antunes) 

A explicação de Marlucy Santos é de que, neste caso a transgressão gramatical é propositadamente feita para indicar uma desordem psíquica ou uma confusão entre o sujeito e o outro, ou ainda um jogo de palavras que traz a noção de presença e ausência". 

Na música "Malandragem", Cazuza e Frejat usam o verbo 'ser' de forma inadequada. Em  excelente artigo sobre "A licença poética e a perpetuação dos erros gramaticais", o psicólogo Wilson Muniz Pereira lembra que a expressão 'quem sabe' aponta uma dúvida, uma hipótese, e 'sou' indica um fato, uma certeza, então essa indicação de dúvida feita pelo verbo ‘ser’ no tempo presente do modo subjuntivo seria conjugada como que eu seja. O correto então seria: “Quem sabe eu ainda seja uma garotinha.”.

Quem sabe ainda sou uma garotinha
(Malandragem - Cazuza e Frejat)

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