quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Descobri algo em comum com Artur Xexéo


A pergunta
de Artur Xexéo
Há gente que fica paralisada diante de perguntas que perseguem a Humanidade desde sempre. Como “o que é a vida?”. Há quem consulte filósofos, leia tratados, pesquise no Google para não ficar mudo quando ouve alguma indagação metafísica como “de onde viemos?”, “para onde vamos?”.

Não sou desses. Nem por isso deixo de ficar mudo diante de algumas questões. Uma delas me persegue ultimamente. É mais prática, mais concreta, menos filosófica. Quase sempre ela me ataca no supermercado. Diante da caixa. Logo após entregar meu cartão para pagar as compras. É quando a moça, invariavelmente, me pergunta com ar displicente:

— Débito ou crédito?

Nunca sei o que responder de imediato. É claro que eu sei a diferença entre crédito e débito. Mas ali, naquela hora, diante da urgência da atendente, eu fico confuso, na dúvida, inseguro e, consequentemente, mudo. Crédito ou débito? Será esta a grande questão do universo?

Nem tenho cartão de débito. Portanto, a minha resposta, quando enfim eu consigo dar alguma reposta, é sempre a mesma. Mas antes de pronunciá-la, preciso de alguns segundos, talvez minutos, para me decidir. O que é mesmo crédito? O que é mesmo débito? Para que serve mesmo este cartão? Por que eu não consigo responder a uma pergunta tão simples?

Só há uma explicação: sofro de STB (não confundir com SBT, que me faz sofrer muito também), a Síndrome de Trocar as Bolas. É simples assim. Troco as bolas. Troco os conceitos de débito e crédito.

No domingo, em mais uma crônica genial, Verissimo, ciente que há gente que troca as bolas como eu, ensinou a diferença entre Calvin Klein e Kevin Kline, Billy Wilder e William Wyler, Von Sternberg e Von Stroheim. O texto me serviu de grande ajuda. Fiquei mais seguro em relação a uma ou outra dúvida, embora deva confessar que, em relação a Von Sternberg e Von Stroheim, eu continuo confuso, mesmo depois das explicações de Verissimo. Pois foi lendo a crônica de Verissimo que me dei conta de não estar sozinho no mundo.

Eu confundo a Siqueira Campos com a Constante Ramos, sabe Deus por quê, a Dias Ferreira com a Domingos Ferreira, a Guilhermina Guinle com a Rainha Guilhermina. A primeira confusão não me traz muitos problemas, já que as ruas estão separadas por alguns poucos quarteirões. Mas as outras realmente dão trabalho. Muitas vezes quero ir ao Leblon e me vejo em Copacabana. Ou, a caminho de Botafogo, vou parar no Leblon.

Eu confundo Hugh Grant com Hugh Jackman. Confundo Kirsten Dunst com Kristen Stewart. Os personagens de “Senhor dos Aneis” com os de “Harry Potter”. Eu confundo.

Mas a pergunta que realmente me atormenta, aquela que eu não quero ouvir e que me persegue com a fidelidade de um cão encontrado rua é uma só:

— Débito ou crédito?

Um comentário:

  1. Amo tomar café no trabalho lendo textos assim. É o pão de cada dia. Quero lhe dizer que sempre debitei na sua conta de escritor do cotidiano e sempre darei crédito ao profissional Nonato Albuquerque.

    Estou assim hoje, sendo levada pela farra do Natal, enciumada como aniversariante esquecida, querendo abraçar o mundo, afugentar a miséria material e conquistar a fortuna da compreensão.

    O crédito do criador no homem é a grande aposta universal. Nós, por aqui continuamos em débito e as dívidas se avolumam, iguais a pacotes que enchem sacolas e nem sabemos por qual razão.

    Nesse trem da vida, somos passageiros sem leitura de direção, muitas vezes apenas empurrados para o vagão.

    Acredite, é mais fácil responder à moça da caixa da loja. O débito é dinheiro mais curto na conta, de imediato. O crédito é prolongar dívida e pagamento. Ou seja, uma ilusão de esticar o salário.

    Um abraço com muito aconchego. Luz, amigo!

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